terça-feira, 1 de outubro de 2013

Administração e o empreendedorismo no ensino acadêmico brasileiro

 

A formação profissional universitária no Brasil direciona os profissionais para se colocarem no mercado de trabalho como empregados, em outros países a formação está sendo direcionada para o desenvolvimento do empreendedorismo.

Marco Antonio,
 
As universidades brasileiras formam médicos, engenheiros, psicólogos, advogados e outros profissionais para se inserirem no mercado de trabalho, como empregados em organizações; questionamos quando teremos um projeto pedagógico que inclua não somente disciplinas de gestão, mas principalmente que despertem o espírito empreendedor. O aluno deve refletir sobre o empreendedorismo, se realmente é o caminho que deseja seguir, e se possui capacidade de desenvolver o empreendedorismo.
Peter Drucker escreveu o livro Inovação e Espírito Empreendedor (1984) sendo que o mesmo em relação ao empreendedorismo, dizia-se não possuir o talento necessário, e se denominava consultor e escritor, mas não seria a pesquisa e publicação sobre administração e gestão uma forma inovadora de empreendedorismo?
O termo empreender significa fazer, realizar ou executar. Mesmo grandes organizações já totalmente estruturadas, talvez a execução, seja uma das ações mais complexas, pois é o momento de reunir os recursos e fazê-los trabalhar de forma organizada e integrada para atingir as metas estabelecidas.
Ser empreendedor no Brasil com carga tributária em torno de 40% conforme prof. Stephen Kanitz, consultor brasileiro mestre em administração pela Harvard Business School, além de aumentarem os impostos, reduziram os prazos de pagamento desses impostos de 120 para 15 dias;ou em qualquer lugar do mundo, não é tarefa fácil, além dos conhecimentos convencionais de gestão, do negócio, são necessárias características pessoais de persistência, ousadia, relacionamento, criatividade, inovação, coragem para correr riscos, identificar oportunidades, visão para saber qual a direção a seguir e principalmente ter paixão pelo que faz.
O empreendedorismo é um dos principais fatores de promoção de desenvolvimento econômico e social, observe-se que no Brasil aproximadamente 99% das organizações estão classificadas entre as micro e pequenos negócios, de acordo com a RAIS 2011, sendo 80% no setor de comércio e serviços, as mpes geram empregos privados de 51,6% de acordo com o Anuário do Trabalho 2011 Dieese/Sebrae.
Os dados do SEBRAE apontam a mortalidade das mpes está em torno de 50%, porém há 10 anos estava em uma faixa de 65% a 70%, o encerramento do negócio ocorre nos três a quatro anos iniciais da organização. Esta melhora de rendimento se deve a melhor preparação dos novos empreendedores.
Uma recente pesquisa realizada pelo Endeavor apontou que 76% dos brasileiros gostariam de ter a própria empresa, de acordo com o instituto, é a segunda mais alta taxa do mundo, porém apenas 19% dos entrevistados demonstraram real pretensão de abrir um negócio, nos próximos anos.
Porém, a preparação técnica com um plano de negócios bem estruturado, conhecimentos de gestão, definições do negócio, mercado a ser atingido, estrutura da organização, análise da viabilidade econômica e planejamento estratégico não sejam suficientes para garantir as estatísticas positivas dos micro e pequenos negócios.
Drucker defini os empreendedores como aqueles que aproveitam as oportunidades para criar as mudanças.
Os estudos sobre o perfil do empreendedor na área do empreendedorismo mostram que as características do empreendedor ou do espírito empreendedor, não são um traço de personalidade. Para Meredith, Nelson e Neck (apud UFSC/LED 2000 p. 51) “empreendedores são pessoas que têm a habilidade de ver e avaliar oportunidades de negócios; prover recursos necessários para pô-los em vantagens; e iniciar ação apropriada para assegurar o sucesso. São orientadas para a ação, altamente motivados; assumem riscos para atingirem seus objetivos”.
Essas qualidades ajudam a vencer a competitividade dos tempos modernos. Pela experiência pode-se afirmar que a maioria das pessoas, se estimuladas, podem desenvolver habilidades empreendedoras. Gerber (2004) apresenta algumas diferenças dos três personagens que correspondem a papéis organizacionais, os mesmos se aplicam no intra-empreendedorismo:
a) o empreendedor, que transforma a situação mais trivial em uma oportunidade excepcional, é visionário, sonhador; vive no futuro, nunca no passado e raramente no presente; nos negócios é o inovador, criador de novos métodos para penetrar nos novos mercados;
b) o administrador, que observa os cenários mercadológicos, planeja, organiza e controla a organização visando aumentar sua produtividade e sua inserção no mercado.
c) o técnico, que é o executor, adora consertar coisas, vive no presente, fica satisfeito no controle do fluxo de trabalho e é um individualista determinado.
Pesquisas recentes realizadas nos Estados Unidos mostram que o sucesso nos negócios depende principalmente dos comportamentos, características e atitudes, e não tanto do conhecimento técnico de gestão. No Brasil, apenas 14% dos empreendedores têm formação superior e 30% sequer concluíram o ensino fundamental, enquanto que nos países desenvolvidos, 58% dos empreendedores possuem formação superior. Quanto mais alto for o nível de escolaridade de um país, maior será a proporção de empreendedorismo de acordo com dados do Global Entrepreneurship Monitor, em 2011. No Brasil em uma pesquisa da Universia em parceria com Trabalhando.com 82% dos jovens universitários, de uma amostra 8.170, desejam ser empreendedores, porém 55% vem como obstáculos a carga tributária e a falta de crédito, e 44% dizem que não há projetos de apoio nas universidades onde estudam.
Ainda nos EUA, o Babson College tornou-se um dos mais importantes pólos de dinamização do espírito empreendedor com enfoque no ensino de empreendedorismo na graduação e pós-graduação, com base na valorização da oportunidade e da superação de obstáculos, conectando teoria com a prática. Introduzindo a educação para o empreendedorismo através do currículo e das atividades extracurriculares. É notória a atual ênfase dada ao empreendedorismo e a inovação como temas centrais nas melhores universidades norte-americanas.
O prof. Vicente Falconi, um dos principais pensadores da administração do Brasil, defende: se não seria o caso de se incluir disciplinas de administração e empreendedorismo nos currículos de engenharia, direito, medicina, sociologia? Assim, se os profissionais trabalham para as organizações podem entendê-las melhor e obter mais proveito em seus relacionamentos. Aulas de empreendedorismo poderiam, por exemplo, explicar a um dentista como construir uma equipe de trabalho ou iniciar seu próprio negócio com uma clínica odontológica.
Este ensino certamente reduziria o índice de mortalidade dos empreendimentos, que hoje ainda é tão alto no Brasil. Em um mundo novo e mutável, as oportunidades estão aí para serem localizadas e aproveitadas, mas elas requerem conhecimento e espírito empreendedor para que possam se transformar em realidade.

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