quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Marketing: Formação Acadêmica X Mercado de Trabalho

Percebe-se que há uma lacuna entre o que é fundamental para o sucesso efetivo dos egressos no mercado e o que está sendo ofertado pelas instituições de nível superior

Por Eduardo Pezzi | 27/08/2015

pauta@mundodomarketing.com.br


Os meus 20 anos de atuação na área, boa parte como consultor e orientador de novos profissionais e a experiência de 7 anos como professor de graduação e pós-graduação além de coordenador de curso de Marketing, me trouxeram algumas inquietações. Em especial, sobre as competências e habilidades capazes de formar um profissional de marketing, de alta performance, em se tratando de estratégias e resultados. Obviamente, não pretendo esgotar o assunto neste pequeno texto, ao contrário, tenho apenas a intenção de iniciar uma discussão prático-teórica sobre o tema.
Acredito que a formação deste profissional deva passar por áreas como: Tecnologia da Informação, Análise e Geração de Inteligência através do Big Data, Mídias Digitais, Métrica, Estatística e Neurociência; pois são fundamentais para que se compreenda, de fato, as motivações do consumidor, além de todo o processo de compra.
Partindo desse pressuposto e de posse de uma gama de grades curriculares, de diferentes cursos de Marketing, mais precisamente de graduação, é possível perceber que há uma lacuna entre o que é fundamental para o sucesso efetivo dos egressos no mercado e o que está sendo ofertado pelas instituições de nível superior. Principalmente, ao se considerar a realidade gerada pela era globalizada, que produziu um ambiente hipercompetitivo, que demanda cada vez mais agilidade e precisão.
De forma objetiva, o Marketing tem como função entender e atender o consumidor. Para isso, é necessário o desenvolvimento de estudos sobre o comportamento humano, na busca por uma maior compreensão à respeito dos processos de decisão de compra, para então, poder atender o mercado com as ferramentas mais adequadas disponíveis, conhecidas como mix de marketing. Nesse sentido, o domínio das áreas supracitadas é condicionante para a elaboração de estratégias assertivas.
Os dados estão aí, o neuromarketing também, porém, é preciso softwares para acessar os primeiros e estudo para compreender o segundo. Talvez fosse possível, inclusive, a utilização do conceito 1to1, que gera informações personalizadas sobre comportamento, mas que agora podem ser obtidas através de uma interpretação de dados automática e em massa.
Contudo, isso não vem ocorrendo. O que leva a crer que há um lapso na formação acadêmica atual, já que grande parte dos egressos expressam dificuldade em entender essas questões e, consequentemente, em aplicar o conhecimento de forma estratégica. Isso influencia negativamente suas decisões, refletindo nos resultados para a marca, criação de novas ofertas, lucratividade e, por fim, na sustentabilidade das organizações.
A motivação do consumidor é composta por diversas variáveis e, justamente por isso, compreendê-la é uma tarefa bastante complexa. A dissonância entre sua fala e sua ação é, todavia, um dos principais motivos de insucesso no Marketing.
Entretanto, ao aproximar o Marketing de áreas como Tecnologia da Informação e Neurociência, pode-se fazer o cruzamento de dados sobre o seu discurso, seus sentimentos e suas ações, aumentando a probabilidade de gerar informações mais realistas acerca das motivações que afetam o seu comportamento.
Voltando à inquietação inicial, quando o profissional de marketing ingressa no mercado de trabalho despreparado, sem as competências e habilidades que se espera dele, não é capaz de desempenhar suas atividades de maneira substancial, tampouco colaborar efetivamente com as organizações. Pior que isso, acaba contribuindo com a formação de uma imagem distorcida sobre a categoria, desmerecendo sua importância e abrindo espaço para a contratação de material humano de áreas correlatas que, embora também possam ser necessárias, não desempenham o mesmo papel.
Assim, a formação em marketing precisa ser revista e constantemente atualizada, fundamentando-se nas relações de consumo, nas necessidades e desejos não declarados. Dessa forma, talvez, será capaz de preparar egressos, que sejam vistos e aceitos pelas organizações como profissionais que, de fato, apresentam competência para entender a complexidade do cenário atual, contratando-os para desempenhar funções condizentes com a sua formação.

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